A visão é um dos sentidos mais importantes para o desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança. Pois ela é a principal via sensorial para entrada de estímulo no cérebro infantil. O comprometimento da visão afeta todos os outros domínios de desenvolvimento. As crianças precisam perceber e entender o meio em que estão para receber os estímulos e replicá-los.
Muitos problemas visuais em crianças podem não apresentar sintomas claros e passar despercebidos por pais, professores ou até mesmo pelo pediatra. Tanto pela criança ainda não verbalizar e não conseguir se expressar bem, tanto por termos dois olhos e muitas vezes um compensar algum déficit do outro.
Avaliamos não somente a capacidade de enxergar, mas todas as estruturas oculares que podem ter alterações sem levar a redução visual imediata. É realizado também exame de córnea, reflexos pupilares, motilidade ocular, retina e nervo óptico.
Primeira consulta com oftalmopediatra: quando deve ser feita?
A primeira consulta oftalmológica deve ser realizada ainda no primeiro ano de vida, entre 6 meses e 1 ano de idade.
Segundo a dra Isabelle Manicacci, oftalmopediatra e especialista em Estrabismo: “Muitos pais não sabem que o bebê nasce vendo turvo e só desenvolve a visão após o nascimento. Dentro do útero é escuro, o acesso as luzes, formas e imagens só ocorre ao nascer. Avaliar se as estruturas oculares estão adequadas para receber essas imagens é fundamental para termos certeza que a visão irá se desenvolver normalmente”
Essa idade da primeira avaliação é uma recomendação da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica. Qualquer alteração deve ser diagnosticada e tratada precocemente para não prejudicar o desenvolvimento global da criança (motor, cognitivo e social)
Se a criança nasceu prematura, teve complicações neonatais ou apresenta síndromes genéticas, esse acompanhamento deve começar ainda mais cedo, conforme orientação do pediatra.
O teste do olhinho é a primeira avaliação?
Na verdade o teste do olhinho é um exame de triagem executado pelo pediatra ao nascimento ou nas primeiras 72h de vida. Depois vai ser repetido em algumas consultas ao longo do primeiro ano. Ele é muito importante pois faz uma triagem dos pacientes que possam precisar de uma avaliação antes do indicado. Em caso de alteração ou suspeita nesse reflexo, o bebê vai ser encaminhado para o especialista em oftalmologia infantil fazer um exame mais profundo e detalhado. É importante ressaltar que esse exame normal não exclui a necessidade do exame entre 6m e 1 ano, são dois exames diferentes que precisam ser realizados.
Próxima avaliação de rotina com oftalmopediatra: em qual idade?
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia pediátrica definiu um calendário para avaliação oftalmológica infantil.
- Ao nascimento: Teste do olhinho (Reflexo vermelho) pelo pediatra na maternidade;
- 6 meses a 1 ano: Primeira avaliação completa;
- Entre 3 e 5 anos (de preferência aos 3 anos): É indicada nova consulta para verificar se o desenvolvimento visual permanece bom e se as estruturas oculares mantêm sem alterações;
- Após os 5 anos: o acompanhamento pode ocorrer a cada 1 a 2 anos.
Muitos se questionam sobre a necessidade dessas avaliações. A dra Isabelle explica que os olhos estão em constante crescimento e desenvolvimento, a criança cresce e o olho também. “Um primeiro exame normal não é sinônimo de ficar normal a vida inteira. É preciso verificar se ao longo desse crescimento do tamanho do olho as estruturas oculares permanecem funcionando adequadamente, mesmo que a criança pareça ver bem no dia a dia.” Muitas alterações não são perceptíveis pelas crianças e cuidadores, por isso a avaliação direta de cada um dos olhos e estruturas oculares vai nos trazer a segurança que a visão mantém adequada nesse período crítico da primeira infância.
Sinais de alerta: fique atento!
Algumas alterações podem indicar uma avaliação mais imediata. Independente da idade, a criança deve ser avaliada se apresentar:
- Desvio nos olhos (estrabismo);
- Lacrimejamento excessivo ou secreção ocular frequente;
- Olho vermelho persistente;
- Sensibilidade exagerada à luz;
- Olhos que se movimentam anormalmente;
- Aproxima muito objetos ou assiste TV muito perto
- Dificuldade na escola;
- Dor de cabeça frequente ou cansaço visual;
- Atrasos no desenvolvimento motor ou visual;
- Histórico familiar de problemas oculares importantes.
Por que o acompanhamento com oftalmopediatra é tão importante?
O desenvolvimento visual ocorre nos primeiros anos e pode ser recuperado/estimulado principalmente até os 7 anos. Por esse motivo, problemas como ambliopia (olho preguiçoso), estrabismo e erros refrativos (necessidade de óculos) precisam ser identificados e tratados quanto antes.
Além disso, outras alterações não relacionadas à visão podem ser encontradas e tratadas como alergias oculares, obstrução de via lacrimal, alterações em retina, nervo óptico ou córnea.
Quanto mais cedo forem detectados, maiores as chances de preservação e recuperação da visão caso esteja afetada.
Não podemos esquecer que em algumas condições o acompanhamento vai ser mais frequente. Vão ser nos casos em que uma patologia clinica pode afetar diretamente os olhos, ou que os medicamentos em uso podem cursar com alterações oculares que precisam ser monitoradas. Em geral vão ser as crianças com:
- Alergias e dermatites;
- Bronquite e asma em uso de corticoide;
- Doenças reumatológicas ou auto-imunes;
- Doenças do sistema nervoso central;
- Algumas síndromes sendo a principal a Sd de Down;
- Doenças endocrinas e dermatológicas
O oftalmopediatra possui treinamento específico para examinar crianças, mesmo as que ainda não sabem falar ou colaborar nos testes. Com técnicas apropriadas e ambiente acolhedor, é possível avaliar a visão e saúde ocular de forma segura e precisa.
Se você tem dúvidas ou percebeu algum sinal diferente nos olhos do seu filho, agende uma avaliação. Cuidar da visão é cuidar do desenvolvimento. A dra Isabelle Manicacci é oftalmopediatra especialista em Estrabismo com mais de 10 anos de experiência clínica e cirúrgica.